[OPINIÃO] "Todos Devemos Ser Feministas" por Chimamanda Ngozi Adichie
17:01Sinopse: "Peço-vos que sonhem e planeiem um mundo diferente.
Um mundo mais justo. Um mundo de homens e mulheres mais
felizes, mais fiéis a si mesmos. E é assim que devemos começar: precisamos de
criar as nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos de criar os
nossos filhos de uma maneira diferente."
O que é que o feminismo significa hoje em dia? Neste ensaio pessoal - adaptado de uma conferência TED -
Chimamanda Ngozi Adichie apresenta uma definição única do feminismo no século
XXI. A escritora parte da sua experiência pessoal para defender a inclusão e a
consciência nesta admirável exploração sobre o que significa ser mulher nos
dias de hoje. Um desafio lançado a mulheres e homens, porque todos devemos ser
feministas.
Quando comecei a ouvir falar
em feminismo (teria eu os meus 8 anos), lembro-me claramente de pensar que
ser-se feminista era estúpido - se machismo era mau, porque motivo haveria o
feminismo de ser bom? Escusado será dizer que não conhecia, de todo, o conceito
da palavra nem o seu significado Histórico e societário; só muitos anos mais
tarde, quando começou a ser “moda” falar no feminismo (pode-se dizer que é “moda”
falar de algo que defende um Direito Humano básico como a igualdade?...), é que
me apercebi verdadeiramente do seu conceito e o que significa para o dia-a-dia
de todos nós.
Mesmo assim, não gostava da
palavra “feminismo” e, confesso, continuo a não ser a maior fã: acho que,
especialmente em português, é facilmente confundível com algo totalmente
repugnante como o machismo. Mas, parafraseando a Emma Watson, não interessa se
gostamos do termo ou não, o que interessa é que ajamos como feministas e,
portanto, que defendamos a igualdade entre géneros. Eventualmente, aceitei o
facto de ser feminista enquanto nome - porque o conceito já o tinha aceitado há
muito.
Nos últimos anos tornou-se
cada vez mais comum falar-se e escrever-se sobre assuntos socialmente
relevantes como o feminismo e uma das obras que sempre se destacou aos meus
olhos foi este livro da Chimamanda Adichie, uma escritora de origem nigeriana.
Escusado será dizer que quando
o tive nas minhas mãos (e sendo de realçar que li uma edição em inglês) fiquei
um pouco chocada com o tamanho do livro; sinceramente estava à espera de um
ensaio que debatesse de forma detalhada as diversas problemáticas do feminismo
(ou da ausência dele). Portanto, não me surpreende que o livro tenha sido
terminado com um ligeiro sabor amargo - não pela qualidade da obra, atenção,
mas porque realmente tinha criado expectativas totalmente diferentes sobre a
mesma.
O ensaio de Chimamanda veio no
seguimento do convite que lhe foi feito para uma conferência TEDx da qual ela não
esperava obter qualquer tipo de feedback positivo. Ao ver que a sua audiência a
surpreendia pela positiva, achou por bem adaptar para o papel aquilo que tinha
sido dito durante a sua participação.
Sem dúvida que a sua escrita é
bastante eloquente e toca precisamente nos pontos merecedores de realce nos
dias que correm; sendo uma adaptação de um discurso (e tendo em conta que nunca
li mais nada desta autora), posso afirmar que o conteúdo é dirigido ao leitor
de uma forma bastante clara e simples, sem pretensões e livre de estrutura
rígida. Isto é uma vantagem, uma vez que, de certa forma, muitas das pessoas
que entrarão em contacto com a sua obra não terão, possivelmente, lido mais
sobre este assunto ou estarão a começar a desafiar os seus próprios conceitos
de género.
Adichie toca em pontos
bastante relevantes na nossa sociedade, apesar de se focar bastante na sua
experiência enquanto mulher nigeriana, o que acaba por também trazer uma
perspectiva que será, para muitos, inédita. Outro detalhe que achei bastante
positivo, é a forma como a autora menciona sem pudor que o machismo masculino
(porque existem mulheres machistas também…) existe precisamente porque quem os
educa perpetua preconceitos através dos ensinamentos que vai passando, que são
depois potenciados pela própria sociedade, que, apesar de não representar no
seu todo a verdade nua e crua das coisas, não deixa de influenciar, mesmo que
acidentalmente, a forma como olhamos para o que nos rodeia.
Penso que terei apenas ficado
um pouco desiludida pelo tamanho diminuto do livro, mas na verdade isso é
apenas culpa minha, porque não me dediquei realmente a perceber o conteúdo do
mesmo, pelo que acabei por criar expectativas desnecessariamente altas. Sendo
uma quase-transcrição de um discurso, não é propriamente exigível que seja de
um volume fora do comum ou que contenha todas as respostas do universo, mas, lá
está, penso que esperava algo mais arriscado.
Talvez para um leitor que não
se tenha ainda debruçado muito sobre o assunto este seja o livro ideal até
porque, independentemente do nosso conhecimento e experiência, as vivências da
própria autora, sendo individuais, acabam sempre por nos dar perspectivas que
podem quebrar os nossos conceitos. Digamos que pode ser visto como um excelente
elemento introdutório ou complementar, apesar de dificilmente servir como uma
única fonte sobre o feminismo.
Não obstante a simplicidade
desta obra, é de valorizar a mensagem e a forma terrena como Chimamanda passou
ideias tão simples e, por vezes, tão óbvias mas sobre as quais raramente nos
debruçamos até que alguém nos confronte com elas. É, sem qualquer sombra de
dúvida, um livro que recomendo, especialmente para mentes curiosas ou,
eventualmente, para quem possa não apreciar tanto livros que não sejam de
ficção – garanto-vos que irão encontrar um tesourinho nestas maravilhosas
páginas…
“I am
trying to unlearn many lessons of gender I internalized while growing up. But I
sometimes still feel vulnerable in the face of gender expectations.”, pág.
38.
Título: Todos Devemos Ser Feministas
Autor: Chimamanda Ngozi Adichie
Título Original: We Should All Be Feminists
Editora: Publicações Dom Quixote (português)/Fourth Estate (inglês)
N.º Págs.: 112 (português)/52 (inglês)
Pontuação: 3,5/5
0 comentários