[Opinião] "O Quarto de Marte" por Rachel Kushner

19:54



Sinopse: Estamos em 2003 e Romy Hall enfrenta duas penas de prisão perpétua consecutivas na penitenciária feminina de Stanville, em Central Valley, na Califórnia. Lá fora está o mundo do qual foi privada: a cidade de São Francisco da sua juventude e o filho, Jackson. Dentro, uma nova realidade: milhares de mulheres que lutam por bens essenciais à sobrevivência; os jogos, ostentações e atos casuais de violência perpetrados por guardas e reclusas; e o modo inoperante e absurdo que pauta a vida institucional nas prisões, que Kushner evoca com humor e precisão.


Opinião: O Quarto de Marte tem todos os ingredientes para ser um livro importante, ao abordar o assunto de encarceramento em massa e o sistema prisional e de justiça dos Estados Unidos da América. No entanto, a abordagem de Kushner e a voz de Romy Hall, a nossa protagonista, pareceu-me distante e fria, como se nem a autora nem a própria personagem principal realmente se importassem com os tópicos que o livro aborda. 

Apesar de se poder discutir que essa seria precisamente a ideia da autora, limitar-se a enumerar as horríveis condições deste sistema e deixar que os leitores tirem as suas próprias conclusões, como um livro de ficção, a necessidade de personagens fortes que ajudem o leitor a sentir algum tipo de conexão é, talvez, o aspecto mais importante da leitura para mim. E eu nunca, nem por uma vez, senti qualquer tipo de empatia por Romy e a sua situação (isto é, não criei uma empatia com aquela personagem, em especial, nem com qualquer outra que o livro introduziu, apenas um sentimento de "dor universal", uma vez que se torna impossível ficar completamente indiferente às situações ilustradas no livro, mas, estas poderiam ter acontecido a Romy ou a qualquer outra personagem, e a minha reacção teria sido exatamente a mesma).

A história centra-se primariamente, como já foi referido, em Romy Hall, uma mulher que está a começar a cumprir a sentença de duas sentenças perpétuas, e a história de vida que a levou até aquele momento; mas, também somos introduzidos a outras personagens, não apenas presos, mas também guardas e outros funcionários da prisão, ora alternando entre memórias do seu passado, ora seguindo como cada um deles lida com os desafios do dia-a-dia na prisão. 

O livro está formatado em pequenas vinhetas, saltando de capítulo em capítulo de uma para outra personagem, o que tornou evidente a falta de uma voz narrativa distinta de um para outros: a quantidade de vozes, nenhuma delas particularmente memorável (ou, quando tinham a oportunidade de o ser, essa foi completamente desperdiçada) misturam-se numa massa de estereótipos que não têm nenhuma característica distinta, apenas algumas "peculiaridades" com o objetivo de os distinguir. A título de exemplo, a existência de uma personagem transgênero e de uma personagem com transtorno bipolar é apenas mencionada, tal elemento tão importante de cada uma dessas personagens quase que ignorado, algo que a autora poderia ter usado para trazer mais atenção à forma como pessoas com este tipo de problemas ou doenças são tratados num ambiente prisional (o que será fácil de adivinhar, mas, ainda assim, é ignorado).

Embora não haja dúvidas que este é um livro muito bem pesquisado, que tenta consignar questões muito reais, como uma história fictícia não consegue cativar nem apresentar um retrato convincente de mulheres na prisão, as suas lutas e a bagagem emocional que vem com isso.


Título: O Quarto de Marte
Autor: Rachel Kushner
Título Original: The Mars Room
Editora: Relógio D'Água
N.º Págs.: 344
Pontuação: 2/5

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